Dê tempo ao luto

Hoje estou pensando nos  tantos acidentes, enchentes e perdas materiais e humanas que temos enfrentado. Por vezes, sentimos que o luto vem de uma forma mais cruel quando cercado de tragédias. Por outro lado, reflito que que existem pessoas que sofrem com o luto tanto quanto, independentemente de vivenciar tragedias. Nesse aspecto é que as perdas e os lutos não podem ser comparados, julgados, é particular e cada um sente a seu modo. Por mais que se repitam e se compreendam que as perdas não se comparam, ainda assim, a reação ao  luto é diferente em cada pessoa.

Alguns podem sentir as perdas de uma forma avassaladora, que por si só, é cruel e invasivo, e por isso podem precisar de mais tempo, podem querer falar sobre quem partiu, reviver momentos, pois precisam da suavidade de cada dia para contrapor à aspereza da perda. Dou meu próprio exemplo, quando conto no meu livro Vida Revivida o quanto precisei voltar ao bairro em que morava com a minha família depois da morte de todos no mesmo dia, naquele fatídico acidente. Pouco a pouco fui me despedindo daquela vida, fui me reencontrando em outro lugar, com outras pessoas, precisei de tempo, e voltar ao bairro antigo era uma forma mais leve de enfrentar a crueldade da perda.

Tragédia não se espera, chega de repente, quem vive esse luto precisa ser acolhido, um passo depois do outro. Quem está ao lado, de quem perde  não pode forçar, não pode apressar que o enluta esqueça, não pense, não chore ou chore tudo. Tais atitudes podem ser invasivas, também.

Que todos aqueles que sofrem a dores da perda encontrem a sua forma suave de lidar com o luto.

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